Da utilidade das adversidades
1 – É bom que eu passe algumas vezes por aflições e contrariedades, porque freqüentemente me faz refletir, lembrando-me que vivo num desterro e, portanto, não devo pôr minha esperança em coisas alguma do mundo. Bom é encontrar às vezes contradições, e que de mim façam conceitos mau ou pouco favorável, ainda quando minhas obras e intenções sejam boas. Isto ordinariamente me conduz à humildade e me preserva da vanglória. Porque, então, mais depressa recorrerei ao testemunho interior de Deus, quando de fora sou vilipendiado e desacreditado pelas pessoas.
2. Por isso, deverei firmar-me de tal modo em Deus, que me não fosse mais necessário mendigar consolações às criaturas. Assim que eu de boa vontade estiver atribulado ou tentado, ou molestado por maus pensamentos, sinto logo melhor a necessidade que tenho de Deus, sem o qual não poderei fazer bem algum. Então me entristeço, gemo e choro pelas misérias que padeço. Então causa-me tédio viver mais tempo, e desejo que venha a morte livrar-me do corpo e uni-me a Cristo. Então compreenderei também que neste mundo não poderei ter perfeita segurança nem paz completa.
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